Uma das grandes diferenças entre a ética estóica e a ética cristã é o juízo sobre o prazer e a dor. Para o estóico, a dor é “inimiga da natureza” [por exemplo, Aulo Gélio]; para o cristão, a dor faz parte da própria natureza (humana) [por exemplo, S. Tomás de Aquino].
Sobre o prazer, o estóico diz que não é um bem nem um mal — não é um vício nem uma virtude, excepto “se o prazer se transforma em paixão” e assim se transforma em vício — o que entra em contradição com a concepção estóica de “virtude em conformidade com a natureza”, porque ao ser humano deveria aplicar-se, ao contrário do que defende a ética estóica, a natureza humana propriamente dita, e não uma outra natureza de um outro animal qualquer.
Em contraponto, o cristão diz que o prazer é um bem ou um mal consoante o entendimento que se tem dele, em função da natureza humana e não de uma outra natureza de um outro animal qualquer, e em função do Fim Último para além do qual não é possível qualquer regressão lógica.
Na modernidade, a ética estóica misturou-se com o epicurismo; e desta mistura surgiu a tentativa contemporânea de justificar eticamente todo e qualquer tipo de prazer, alegadamente “desde que não excessivo”; e transformou-se a dor em algo de não-natural que deverá ser eliminada através do “suicídio assistido” — segundo o estoicismo, o sábio estóico não deve temer o suicídio.
A ética cristã é, de facto, o sistema ético mais belo que o ser humano alguma vez conheceu, porque ao conceber um Fim Último que o transcende, não troca os meios pelos fins [e vice-versa] ad infinitum, dando-lhe uma coerência lógica e racional que não existe em mais nenhum outro sistema ético.
https://espectivas.wordpress.com/2012/03/11/o-prazer-e-a-dor-segundo-o-estoicismo-e-o-cristianismo/
Segunda a ética estóica, tudo o que existe na natureza é dotado de um Lógos (razão) que a governa. É no contexto do Império Romano, mais precisamente no final da Idade Antiga (no próprio período helenístico) que surge o Cristianismo e este vai dizer que tudo o que há no universo, inclusive o homem, é portador de Lógos e este Lógos é Deus.
A partir desta aparente relação com o estoicismo, elabore um texto dissertativo, explicando até que ponto as idéias do Cristianismo eram originais.
O estoicismo trouxe a ideia de que tudo na Natureza é governada pela razão (Lógos). “Essa razão pode ser chamada de alma do mundo ou mesmo de Deus. Tudo existe e acontece segundo uma predeterminação rigorosa. Concebida desta forma, a natureza é, em si mesma, justa e divina” (UNISUL LD, pg. 196). “Viver em conformidade com a razão torna o homem feliz, porque o liberta da escavidão das paixões. O sábio é aquele que não se deixa enganar pelos prazeres, nem se deixa modificar pela dor.” (ibidem, pg.197). Seguindo esse raciocínio, podemos encontrar no próprio Evangelho Segundo São João a assertiva de que Jesus é o Lógos, o Verbo encarnado, aquele que vem ao mundo para salvar os homens de seus pecados.
Jesus, em sua encarnação na Terra é o princípio divino a partir do qual Deus opera no mundo. Esta é a ideia de que o Lógos discutido pela Filosofia Antiga vai tomar um novo perfil, na pessoa da encarnação do Deus cristão.
Immanuel Kant, pensador da Idade Moderna, ao se referir a Idade Média diz que a mesma é o período da menoridade intelectual. Entretanto, a partir dos dados levantados pela pesquisa histórica, esta tese não alcança mais consenso. Porque desta afirmação?
Longe de ser um período “das trevas” do pensamento, a Idade Média é considerada, numa analogia de Dilthey, como um caldeirão onde ferviam as ideias; o século IV, na baixa Idade Média, floresceu em Alexandria uma das mais importantes escolas do pensamento, o neo-platonismo, de onde surgiram, de seus seguidores, uma das quais Hypatia, os primeiros momentos de uma ciência desprovida de misticismo. Embora os embates entre religiões, muito comum naquela época, as ideias adentraram os séculos posteriores, e mais precisamente no século XII, com Pedro Abelardo, e suas discussões sobre a Trindade, opondo a razão em confronto ao dogma, vão criar as sementes posteriores à análise de René Descartes. Na Escolástica medieval há o desenvolvimento do Humanismo, ou estudos humanísticos, “o que equivalia à atualização, dinamização e revitalização dos estudos tradicionais que incluíam a poesia, a filosofia, a história, a matemática e a eloquência.” (UNISUL, LD, pg.133).
Em diversas passagens do Livro Didático, você se deparou com a expressão: filosofia cristã. A temática central desta filosofia será o embate entre razão e fé:
a) Em que consiste este embate?
b) Das duas principais escolas filosóficas da Idade Média, a Patrística e a Escolástica, qual logrou maior sucesso na tentativa de conciliação entre fé e razão e por quê?
a) O embate entre fé e razão na verdade inicia-se já na Grécia Antiga, com a busca do arkhé de todas as coisas não no Monte Olimpo com as divindades mas na própria Natureza, ela mesma fornecedora dos elementos que constituem a criação. Com Sócrates, a discussão se amplia, pois o homem devia buscar nele mesmo as respostas às suas mais intrínsecas indagações, muito embora soubesse que não as tinha todas. Essa discussão se amplia, já no século IV d.C., entre as diversas seitas que existiam no mundo antigo, em confronto com o mundo pagão, mormente em Alexandria (UNISUL, LD, pg. 25). Longe de haver terminado, Fé e Razão continuaram a enfrentar-se no período medieval, com Pedro Abelardo, na Renascença com Descartes, havendo a cisão entre ciência e religião, gerando em nossos dias as modalidades criacionistas e evolucionistas, estas últimas aceitando a Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin.
b) A Patrística surge num momento histórico de grande influência grega sobre o mundo. Grande parte dos pensadores deste período teve formação na cultura helênico-romana, o que fez com que fossem estabelecidos vínculos de continuidade entre a filosofia grega e o pensamento Cristão. Agostinho é o maior dentre eles, com as tentativas de conciliação do cristianismo com a filosofia platônica. A Escolástica por sua vez, com início propriamente dito no século XI, também teve seu período significativo com Pedro Abelardo. São Tomás de Aquino tenta a conciliação com a filosofia de Aristóteles para a formação da Teologia católica, com sua Suma Teológica.
http://veredasfilosoficas.blogspot.com.br/2013/03/reflexoes-sobre-estoicismo-e.html
Mais material para estudo:
Estoicismo e helenização do cristianismo (em pdf)
https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/viewFile/23812/21368
A cristandade sob a influência do estoicismo: http://cristianismoa-religioso.blogspot.com.br/2011/02/cristandade-sob-influencia-do.html
Filosofia da religião: Estoicismo romano e o pensamento cristão dos primeiros séculos: http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/cr/article/view/2102
Slide: Direito natural no estoicismo
http://slideplayer.com.br/slide/14579/
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