quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Jesus e a Filosofia - Introdução

Como Jesus e a filosofia se relacionam? Como devem se relacionar? Essas questões sobre a relevância de Jesus na filosofia nos levam de um lado para o  outro entre a filosofia e a teologia, sugerindo que as duas disciplinas estão relacionadas de maneira importante, pelo menos com referência a vários tópicos de interesse de filósofos e teólogos. Os filósofos comtemporâneos raramente pisam no campo teológico, talvez por causa de um desconforto generalizado com as coisas teológicas. De todo modo, quem pergunta sobre a relevãncia de Jesus para a filosofia não deveria hesitar cruzar as fronteiras disciplinares quando são mostradas explicações, compreensão e verdade. Devemos proceder da mesma forma.

1. De Atenas a Jerusalém, 

Podemos começar, para um contexto adequado, com uma questão mais ampla do que a relevãncia de Jesus para a filosofia: Qual a semelhança, se houver alguma, entre Jerusalem, centro do movimento judeu-cristão dos discipulos de Jesus, e Atenas, centro da filosofia ocidental em seus primórdios? Elas compartilham objetivos intelectuais e, se o fazem, compartilham os meios para alcançar suas metas intelectuais comuns? As duas questões exigem respostas sim, porque tanto Jerusalém quando Atenas querem saber a verdade (talvez entre outras coias, e pretendem conseguila pelo conhecimentoda verdade. Esses dois fatores têm papel significativo no que define Jerusalém e Atenas e, portanto, essas cidades compartilham algo significativo, po´rem diferem, se evitam e até se temem. 
É claro que visar à verdade pelo conhecimento não separa Jerusalpem e Atenas de muitos outros movimentos influentes. As ciências naturais ou sociais, por exemplo, visam à verdade pelo conhecimento, mas não são naturais de Jerusalpem nem de Atenas. A características filosófica primordial de Atenas busca uma espécie de verdade cuja descoberta não esperou pelo trabalho empírico das ciências naturais ou sociais. consequentemente, Sócrates e Platão prosseguiram vigorosamente com seu trabalho filosófico mesmo com ciências naturais ou sociais maturas, na melhor das hipóteses, se existiam. De modo semelhante, a teologia característica do primeiro movimento cristão em Jerusalém não esperou pelo trabalho empírico das ciências naturais e sociais posteriores. sua teologia da Boa Nova, da intervenção redentora de Deus em Jesus como filho concedido aos homens, chegou ao mundo sem contar com as ciências naturais e sociais. Portanto, os primeiros filósofos e teólogos de Atenas e Jerusalém não precisavam recorrer às ciências naturais ou sociais para iniciar suas respectivas tradições na busca da verdade pelo conhecimento.
O que distingue Jerusalém de Atenas? Podemos começar com uma breve observação de que Sócrates e Platão iniciariam um movimento de sabedoria que caracterizava os homens como agentes cognitivos e morais em busc da boa vida. Esse movimento focava tanto na morte como na vida: "...aqueles que se dedicam ao caminho correto para a filosofia se preparam diretamente e por vontade própria para a morte". (Fédon 64a). A morte, de acordo com Sócrates e Platão, é a libertação da alma do corpo, e isso possibilita à alma alcançar, enfim, sem a interferência física, a verdade pura e o pensamento claro. Os sábios (filósofos) abraçam a morte como uma oportunidade  para purificação intelectual da poluição física, sensorial e emocional do mndo transitório presente. O Fédon de Platão promove essa filosofia de iluminação ontelectual característica da antiga Atenas, berço da filosofia ocidental.
Contrastanto com filósofos de Atenas, Jesus e o o seu seguidor Paulo de Tarso promoveram um movimento do poder da Boa Nova, que ofereceu às pessoas o poder da redenção espiritual, moral e até corpórea de Deus.(1) O âmago de sua redenção é oferecido como um dom da reconciliação cortês dos homens com Deus, incluindo a comunhão,à custa d"Ele (veja por exemplo, Lucas 15:11-24, 24:1-35, I corintios 1:9, 15:12-32, 2 Corintios 5:16-21). Jesus e Paulo, como judeus devotos, continuaram na luz teológica de profetas hebraicos antigos, como Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel e Oséias, e tiraram a idéia geral da Boa Nova divina do livro de Isaias (cf Isaias 52:7, 61:1)(2). A promessa de redençãop divina pregada por Jesus e Paulo incluía uma promessa de ressureição corporea, que não deve ser confundida com a ressuscitação de um morto ou com a imortalidade. 
(1) Sobre a idéia unificadora de uma proclamação da Boa Nova entre os escritores do Novo Testamento, vejaq Eugene Lemcio, "The Unifying Kerygma of the New testament". In: Lemcio, the Past of Jesus in the Gospels (Cambridge University Press, 1991), p. 115-131. CF Lemncio, "The Gospels within the New Testament Canon". In: C.G.Bartholomew, ed., Canon and Biblical Interpretation (London: Paternoster, 2006, p. 123-145.
(2) Sobre a contribuição do livro de Isaias à mensagem da Boa Nova no novo testamento, veja Otto Betz, "Jesus, Gospel of the Kingdom". In: Peter Stuhlmacher, ed., The Gospel and the Gospe4ls (Grand Rapids, Ml: Eedmans, 1991, p 53-74; Rikki Watts, New Exodus and Mark (Tubingen: Mohr Siebeck, 1997), cap 4; e Graham Stanton, "Jesus and Gospel", In: Stanton, Jesus and Gospel (Cambridge University Press, 2004), p. 9-62.
 Sócrates e Platão acreditavam na imortalidade para pelo menos alguns seres humanos, mas a ressureição corpórea  não tinha lugat nessa crença. O corpo humano, em sua história, obstrui a purificação como iluminação intelectual e como impedimento para o tipo de excelencia mental ou oral oferecidas (pelo menos em principio) por nssa morte iminente. Pelo contrário, Jesus e Paulo ensinaram, na tradição do genêsis 1-2, que a criação divina do mundo físico foi inicalmente boa e não um mero impedimento à nossa purificação intelectual. Eles aceitaram e estenderam a promessa divina relatada a alguns dos profetas hebraicos antigos de que o povo de Deus levantaria dos mortos, até fisicamente. Sem essa ressureição, eles comprendiam, a redenção humana seria bastante incompleta, porque Deus queria os homens encarnados. A ressureição completa, na opinião deles, incluia, assim, a encarnação; portanto, Paulo e muitos os outros seguidoes de Jesus pregavam a ressureição corpórea de Jesus e, no futuro, de seus seguidores também (ver I Corintios 15:1-15) (3) . Jerusalém, portanto, contradiz Atenas, e as duas não podem se unir em suas atitudes em relação ao valor do mundo físico e às necessidades dos seres humanos.

(3) A respeito do papel da ressureiãona pregação cristã antiga, veja Floyd V. Filson, Jesus Christ the Risen Lord (nashville: Abingdon, 1956); Rowan Willians, ressurection (London: Darton, 1982); "Ressurection". In Bockmuehl, ed, the Cambridge Companion to Jesus (Cambridge University Press, 2001), p. 102-118)
De acordo com o apóstolo Paulo,  movimento da Boa Nova  origina-se da revelação redentora de Deus na vida, morte e ressureição de Jesus. Mais especificamente, esse movimento baseia-se no "poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Em Deus) (Romanos 1>16, cf. 1 corintios 1:18), e esse poder divino está bem exemplificado pelo Jesus humano (2 Corintios 4:4, 5:19; cf. Filipenses 2:6).
Paulo considerava : (a) a obediente morte pela cruz sofrida por Jesus e (b) aq ressureição divina de Jesus dos mortos como dois momentos terminantemente relacionados a um unico movimento redendor e doador de vida pelo único movimento redendor e doador de vida pelo único Deus verdadeiro de amor justo domnante (ágape). a ressureição de Jesus foi essencial para que Paulo comprendesse a salvação como uma redenção divina do mal e da morte; ele disse: "...(Se) Cristo não ressuscitou (dos mortos por Deus), frívola é vossa fé e ainda estais em vossos pecados" (I Corintios 15:17). Além disso, Paulo fala do tipo de "conhecimento de Cristo", essencial à salvação, relacionado ao nosso reconhecimento "do poder de sua ressureição" por meio de nossa conformação com a morte de Jesus(Filipenses 3:10). Paulo apregoou assim a morte de Jesus pela crucificação porque tam´bem apregoava a ressureição por propósitos redentores divinos. As duas, de acordo com Paulo, devem ser tratadas juntas para se compreender o movimento da Boa Nova redentora de Deus (veja por exemplo, Rm 3:6).
O poder divino essencial ao movimento da Boa Nova de Jerusalém é, na perspectiva de Paulo, importante cognitiva, moral e  espiritualmente. Muitos filosofos da religião neglicenciaram essa perspectiva, e com isso sua característica  epistemológica subjacente raramente veio à tona na filosofia. Paulo defende que conhece O Jesus ascendido na base do seu conhecimento em primeira mão do poder da ressureição de |Jesus por Deus (cf. Filipenses 3:8-11). A redenção, de acordo com Paulo, consistne em conhecer de imediato o poder divino da ressureição de Jesus por ter sido transformado por ela para se conformar com a morte abnegada de |Jesus, em solidariedade com o Deus que o levantou dos mortos.
Joseph Fitmyer caracterizou o poder relevante e o conhecimento correspondente da seguinte forma:
Este "poder"não se limita à influência do Jesus ascendido no cristão, mas inclui uma referência à origem dessa influência no próprio Pai (Deus). deve-se compreender, portanto, o conhecimento que |Paulo busca ter e considera como tansformador da vida de um cristão e de seus sofrimentos, como algo que inclui o âmbito completo desse poder.  Ele emana  do Pai, levanta Jesus dos mortos com a ressureição, concede-lhe uma nova vitalidade e, por fim, origina-se dele como doador de vida e força revitalizante da "nova criatura" (cf. 2 Corintios 5:17) e da vida nova que os cristãos em comunhão com Cristo experimental e vivem... (O) conhecimento desse (poder), emanando da fé cristã, é a força transformadora ue revitaliza a vida cristã e molda o sofrimento de acordo com o padrão que é Cristo. (4), 
4.  Joseph Fitzmyer, "To know Him and the Power of his ressurection" (Filipenses 3:10)". In: Fitzmyer, to Advance the Gospel, 2. ed. (Grand Rapids, Ml: Eedermans 1998) p. 208-209.
Essa caracterização do poder da ressurreição combina com a visão de Paulo, mensionada anteriormente, de que a Boa Nova dos atos divinos por intermédio de Jesus é "o poder de Deus" para a salvação humana (Romanos 1;16, cd Efésios 1:19-20). Por consequência, o movimento da Bao Nova de Jesus promovido por Paulo não é um culto restrito a Jesus, mas é oferecido como um movimento de poder do único Deus verdadeiro do mundo todo, incluindo gentios e judeus (Romanos 3:29, 15:15-17) 5. Isso combina com o foco em Deus  no ministério de Jesus (veja, por exemplo, Mc 1:15, 12:29-30).
5. Veja Dunn, "Christology as an Aspecto of Theology". In: A.J.Malherde & W.A.Meeks, eds., The Future fo Christology (Minneapolis: Fortress, 1993) p. 202-212.

Na perspectiva de Paulo sobre o primeiro movimento de Jesus, o Espirito interveniente de Deus fornece o poder da ressureição necessário, incluindo o que levantou Jesus (Romanos 1.4). O mesmo Espírito, de acordo com Paulo, dá de imediato a evidencia e o conhecimento peremptório necessários desse poder para destinatários dispostos (veja Romanos 5.5, 8.15-16, 1 Corintios 2.9-12). Tal abordagem da evidência e do conhecimento da realidade divina reconhece a evidência disponpivel com um propósito de realidade divina oferecida de acordo com os propósitos redentores. esse tipo de perspectivacognitiva do conhecimento da realidade divina foi evidentemente influenciado or Jesus (veja Mc. 4.2-12, Mt. 11.25-30). A respeito da evidência da realidade divina, fisosófos da religião e teólogos deixam os inquisidores, sem um desafio voluntário impositivo, no nível de uma simples avaliação teórica da evidência proposional. Nesse nível, não dá para entender muito bem o movimento revolucionário da boa Nova iniciado por Jerusalém, principalmente por Jesus e, seguindo seu caminho, por Paulo. Essa revolução transformadora da vida precisa de uma âncora volitiva peremptória mais profunda do que a mera avaliação teórica da evidência propósitiva, incluindo a histórica (6). Jesus e Paulo (seu seguidor) redirecional a epistomologia religiosa, adequadamente, para a evidência divina impositiva, que oferece o desafio voluntário necessário para os homens, indo além de uma mera avaliação teórica.
6. A esse respeito, em relação à evidência histórica teórica para a ressureição de Jesus, veja Paul Minear, the Bible and the Historian (Nashiville: Abingdon, 2002), cap, 5; Dale Allison, Ressurecting Jesus: The Earliest Christian Tradition and its Interpreters (London: T&T Clark, 2005); e Paul Moser, The Elusive God: Reorientering Religious Epistomology (New York: Cambridge University Press, 2008) cap. 3.
Continua...





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