quinta-feira, 7 de maio de 2020

Dispraxia


O termo dispraxia provém do grego "dys", que significa dificuldade e "praxia", que significa fazer, agir, planejar. Dispraxia também é conhecido como "Síndrome do Desastrado" (Clumsy Child Syndrome), porque sofrem muitas vezes têm alguma falta de jeito e lentidão na execução de movimentos coordenados, como falar, cortar com tesoura, escrita, abotoando, amarrando cadarço, etc.
A Dispraxia caracteriza-se como uma disfunção neurológica que atua nas ações do cérebro, no que diz respeito à coordenação comandada pelo cérebro. As partes afetadas são aquelas que se referem aos aspectos motores, verbal e espacial.
A primeira pesquisa documentada sobre coordenação motora fraca em crianças foi em 1923 por Louisa Lippitt. Ela desenvolveu um manual de ginástica corretiva para mulheres para ajudar a corrigir problemas de coordenação, ao sentir que os problemas de coordenação eram uma condição do sistema nervoso sendo um dos primeiros a querer tratá-la com medidas terapêuticas (Cermak & Larkin, 2002).
O termo Dispraxia foi documentado pela primeira vez em 1937 no Reino Unido por Samuel T. Orton, que o chamou de Dispraxia do Desenvolvimento. Ele era neurologista e achava que a dispraxia era causada por lesões no cérebro, estando incluída entre as seis desordens de desenvolvimento mais comuns.
Em 1972 recebeu o nome de Desordem da Integração Sensorial e  em 1975 foi chamada de Síndrome do Desastrado. Outros nomes incluíram Constrangimento no Desenvolvimento, Disfunção Motora Sensorial ou Disfunção Cerebral Mínima. A partir de 1980, passou a ser chamada de  Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC). 
Se estima que entre 6% e 10% de todas as crianças em idade escolar possuam diagnóstico positivo para Dispraxia. No Brasil, um estudo realizado por França (2008) demonstrou que 10,8% das crianças entre 7 e 8 anos de escolas municipais de Florianópolis, Santa Catarina, apresentaram a dispraxia, encontrando-se dentro da média estabelecida pela APA (2002). Contudo, Coutinho et al. (2011), ao analisarem crianças entre 6 e 10 anos de escolas públicas de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, encontraram 36% da amostra com Dispraxia,  sendo portanto um dos distúrbios mais comuns em crianças em idade escolar.

Alguns Tipos de Dispraxia
1 Dispraxia Motora
É a mais comum e reconhecida. Por falha nas conexões, o ato de processar e planejar não são bem sucedidos.  Caracteriza-se por incapacidade de realizar movimentos especializados quando dada uma ordem verbal, e. quando solicitado a imitar uma ação ou ao tentar imitar uma ação. Eles não conseguem traduzir uma ideia nos movimentos necessários, cometendo erros de sequência, no tempo dos movimentos, e na amplitude e posicionamento dos membros do corpo.
No entanto, a pessoa com dispraxia ideomotora é capaz de realizar ações espontaneamente. Por exemplo, a pessoa com dispraxia ideomotora sabe para que serve uma escova de dentes, sabe quais movimentos são necessários para realizar a ação desejada, mas pode ser incapaz de demonstrar o uso de uma escova de dentes quando solicitado. No entanto, à noite, quando se preparam para a cama, eles podem usar a escova de dente adequadamente como parte de sua rotina noturna.
Sendo assim, apresentam dificuldades ao nível do esquema corporal e atraso na organização motora (vestir, comer, etc.). Pode também estar associada à lentidão, imprecisão e dificuldades de planificação de movimentos simples: rotulando-se o indivíduo de desajeitado, desastrado ou atrapalhado
2 Dispraxia Espacial
Apresenta problemas em relação a orientação espacial, que é a capacidade que o indivíduo tem de situar-se e orientar-se, em relação aos objetos, às pessoas e o seu próprio corpo em um determinado espaço. Em virtude do transtorno, o indivíduo não consegue discernir o que está à direita ou à esquerda; à frente ou atrás; acima ou abaixo de si, ou ainda, um objeto em relação a outro, não possuindo noção de longe, perto, alto, baixo, longo, curto. Seus gestos são desorganizados e confusos. Seus armários, mochilas e gavetas são desorganizados. Trocam a posição das letras ao escrever e ao ler confundem letras com direções opostas (b-d), além de não conseguirem escrever em linha reta.
3 Dispraxia Postural
Dificuldades na postura, que se refletem num movimento realizado sem ritmo e com pouco controle. Andar desajeitado, cansando-se facilmente, não conseguindo ficar muito tempo de pé sem perder o equilíbrio ou sem se apoiar em algo. Além de problemas decorrentes da má postura, como dor nas costas, no pescoço, na cabeça, aumenta-se o risco de quedas e lesões.
4 Dispraxia Verbal, Evolutiva ou Apraxia da Fala
Perturbação do desenvolvimento da linguagem que se caracteriza por um déficit da fala: fonológico, fonético e na implementação do programa motor da fala.  São frequentemente são utilizados indistintamente para indicar uma desordem expressiva, de origem neurológica, que interfere na produção dos sons da fala e da sequência de sílabas ou palavras.  Frequentemente, o indivíduo é capaz de produzir um som ou uma palavra uma vez e não consegue reproduzi-la corretamente m seguida. 

Causas da Dispraxia
Os primeiros estudos relacionados ao indivíduo que apresentava dificuldade em executar movimento, tiveram suas causas associadas a uma lesão cerebral, lesão  que poderia ocorrer por diversos fatores. Pode ser devido à imaturidade no desenvolvimento de neurônios ou ser causada por trauma, doença ou lesão cerebral, de modo que possa aparecer em qualquer fase da vida, porém suas causas não são ainda conhecidas
Um fator que se encontra clarificado é que estas crianças não apresentam défices físicos ou neurológicos, que possam explicar os quadros existentes. Por outro lado, este défice encontra-se relacionado com uma perturbação da organização cerebral, a qual deve garantir um processo psicomotor ajustado e adequado de qualquer aprendizagem, possibilitando assim um desenvolvimento de aptidões harmonioso

Fatores de Risco da Dispraxia
Entre os fatores de risco, especula-se que lesões no cérebro podem resultar em dispraxia. Estudos realizados na área médica afirmam que o uso excessivo de álcool e drogas (anfetamina, cocaína e outros) pela mãe da criança podem provocar a Dispraxia. A hereditariedade também aumenta em muito as chances, assim como nascimento prematuro, antes das 37 semanas, baixo peso ao nascer.
Também pode ocorrer desenvolvimento inadequado das células cerebrais ou devido à falta de oxigênio durante o parto. A dispraxia tardia pode ser causada por doença, acidente vascular cerebral ou ferimentos no cérebro.


SINTOMAS DISPRAXIA
Os sintomas que demonstram a existência da Dispraxia são variados, sendo que a maior parte costuma aparecer quando a criança começa a querer a andar e a falar.
As dificuldades ocorrem tanto com a Coordenação Motora Geral, Especifica e a Fina.  Possuem dificuldade de realizar movimentos que envolvem os grandes músculos do corpo ou grupos de músculos que permitem andar, pular, correr, pular em uma perna só, ou jogar um objeto assim como com as tarefas nas quais são realizadas  pequenos músculos do corpo, como os músculos das mãos, pés, cabeça ou do rosto (incluindo a língua e os lábios). Esses são movimentos mais difíceis e delicados, como, escrever, desenhar, pintar, montar um quebra-cabeça, amarrar um sapato ou pentear os cabelos. Além dessas dificuldades, a criança com dispraxia encontra dificuldade para planejar e também organizar seus pensamentos
 Sintomas da dispraxia nas diferentes fases da vida
Até pouco tempo, a Dispraxia era vista como uma condição de infância. No entanto, as evidências sugerem agora que é freqüentemente encontrado em adolescentes e adultos, apresentando desafios a cada fase.  Uma gama de estratégias de intervenção e apoio é, portanto, necessária para garantir que a condição não represente uma barreira para as oportunidades.
 1 De Zero aos Cinco Anos
O diagnóstico de Dispraxia é incomum antes dos cinco anos de idade, porque as crianças variam muito em suas oportunidades de movimento e na taxa de desenvolvimento. Há necessidade de cuidado em diagnósticos muito precoces pela grande chance de erro, porém muito pode ser feito para promover o desenvolvimento de crianças que correm o risco de receber o diagnóstico. Crianças com pouco equilíbrio se beneficiarão da participação em atividades físicas, como corrida de obstáculos, natação e também brinquedos de montar e quebra cabeças. Jogos com bastão e bola, bolhas de sabão e balões ajudarão a desenvolver a coordenação visomotora, enquanto atividades de dramatização ajudam a desenvolver habilidades de vestir-se, fazer turnos e comunicar-se. Essas atividades ajudarão a desenvolver as habilidades fundamentais necessárias para  as tarefas mais complexas que encontrarão à medida que ficam mais velhas.
Do nascimento aos três anos a criança com Dispraxia se irrita facilmente, apresentando dificuldades alimentares, tais como alergias e cólicas. Possuem dificuldade para estabelecer rotina, inclusive para o sono. Demora em se sentar e normalmente não engatinha. Agita-se muito, ficando nervoso facilmente, sendo sensível a barulhos altos. A linguagem também atrasa, usando apenas palavras isoladas, sem compor frases.
Dos três aos cinco anos é uma criança que não para quieta, fala alto, se enerva com facilidade com movimentos desajeitados, esbarrando a toda hora nas coisas e pessoas. Tem dificuldade para andar com o triciclo ou bicicleta, porém não tem senso de perigo, podendo pular de alturas impróprias. Faz muita sujeira ao comer, preferindo usar as mãos em vez de talhares.  Tem dificuldade para segurar lápis, tesouras, ou quaisquer outros objetos. Preferem a companhia de adultos, sendo que as dificuldades de se comunicar persistem, sendo sensíveis a barulhos altos. Normalmente não estão com a lateralidade estabelecida e costumam deixar tarefas inacabadas.
Enfoque das intervenções: desenvolvimento das habilidades fundamentais de movimento através de atividades lúdicas
2  Dispraxia a partir dos Seis Anos
As dificuldades associadas à Dispraxia se tornam mais aparentes durante as séries iniciais da Educação Básica. A disfunção afeta a criança no ambiente escolar, sobretudo no que diz respeito aos movimentos que ela precisa adquirir para segurar um lápis. Além disso, outros objetos que exigem determinado traquejo, como a tesoura ou a régua, também podem significar um empecilho.
As crianças com dispraxia muitas vezes não têm estabilidade central, por isso podem cair no recreio, ter dificuldade em aprender a andar de bicicleta e ter dificuldades nos esportes. Muitos têm dificuldade em manter uma boa postura sentada e se cansam facilmente. Possuem dificuldade com as áreas comandadas pela Coordenação Motora Fina. As crianças com Dispraxia também podem ser lentas para processar  instruções, devido ao grande esforço necessário para organizar seus pensamentos e movimentos, levando à frustração quando uma tarefa não é executada como pretendido. Sem o devido reconhecimento e apoio, essas dificuldades podem afetar o desempenho acadêmico da criança, o relacionamento com os colegas e a auto-estima, provocando  isolamento social.
As crianças com (ou em risco de) Dispraxia irão se beneficiar da participação em programas para estimulação motora direcionadas para ajudá-los a desenvolver as habilidades necessárias para a vida diária. Eles geralmente exigem ajuda para aprender a pegar no lápis e os movimentos dos dedos necessários para uma escrita fluente. O fornecimento de estratégias, como inclinação de escrita, lápis com local marcado para segurar e tesoura especial, pode ajudar a reduzir a “carga motora” das tarefas em sala de aula, permitindo que a criança se concentre na aprendizagem. Apoio e tempo extra para dominar atividades cotidianas como vestir-se e usar talheres são vitais, assim como identificar atividades físicas extracurriculares que sejam motivadoras à criança, proporcionarão oportunidades adicionais de movimento e apoiarão seu desenvolvimento social. Essas abordagens aumentarão a sua confiança e a autoestima ao mesmo tempo em que ensinam as habilidades necessárias para gerenciar as atividades e situações mais complexas que encontrarão no ensino médio.
O professor deve estar muito atento à criança que apresentar este tipo de dificuldade, intervir adequadamente, proporcionando situações educativas diferenciadas e encaminhar para uma avaliação com um profissional, onde o mesmo ajudará a identificar quais são as causas e que nível de dificuldade acriança apresenta, com estas intervenções a criança terá maiores chances e um sucesso escolar. Como os sintomas variam muito, deve-se analisar cada caso individualmente para escolher as melhores técnicas. 
Enfoque das intervenções: apoio orientado para domínio das atividades diárias.

3 Dispraxia na adolescência - Ensino Médio
O Ensino Médio apresenta desafios específicos para os jovens com  Dispraxia, uma vez que se espera que eles assumam uma responsabilidade crescente por si próprios e pela sua aprendizagem. Adolescentes com  Dispraxia  freqüentemente lutam para  organizar a si mesmo e aos seus equipamentos , podendo ocorrer atrasos nas  aulas ou esquecer de entregar as tarefas. São freqüentemente constrangidos em virtude da incapacidade de realizar tarefas motoras no mesmo padrão que seus colegas e podem evitar situações de conflito por medo de expor suas dificuldades, colocando-os em risco de isolamento social e limitando as oportunidades de desenvolvimento de habilidades.
Enfoque das intervenções: mediante a conscientização sobre o transtorno, capacitar os jovens a identificar e usar estratégias que possibilitem ferramentas de desempenho para reduzir o impacto das dificuldades motoras e o apoio para dominar novas habilidades e atividades. \Utilizar estratégias organizacionais estimulando uso de tecnologias para registro e organização do trabalho acadêmico.
4 Sintomas Dispraxia na vida Adulta
Muitas pessoas com Dispraxia  já desenvolveram estratégias para lidar com  suas dificuldades motoras, mesmo que nunca tenham sido diagnosticadas; no entanto, as dificuldades físicas geralmente reaparecem quando estão sob estresse ou quando adquirem novas habilidades. Os aspectos não-motores da  Dispraxia, no entanto, incluindo o mau gerenciamento do tempo, planejamento e habilidades organizacionais tendem a apresentar mais um desafio em suas vidas diárias. A capacidade de vincular o desempenho positivo ao uso bem-sucedido da estratégia permite que eles solicitem e utilizem ajustes adequados no local de trabalho e em outros ambientes, a partir do momento que conhecem seus pontos fortes e fracos. Normalmente encontram dificuldades nas tarefas rotineiras da vida cotidiana, como dirigir, fazer tarefas domésticas, cozinhar e se arrumar.
Enfoque das intervenções:  conscientização das forças e dificuldades individuais, conscientização das ferramentas e estratégias facilitadoras.
5 Diagnóstico e Tratamento
A condição pode não ser aparente desde o início, dificultando o diagnóstico e a identificação.  Meninos são quatro vezes mais propensos a ser afetados que meninas.  Sua ocorrencia é de cerca de dez por cento da população e dois por cento podem apresentar sintomas graves. Não há cura para dispraxia, porém um diagnóstico precoce e terapia apropriada significa maiores chances de melhora.
Diagnóstico geralmente é feito por uma equipe de especialistas. Isso inclui  pediatra, neurologista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e psicólogo.

2 Comorbidade Dispraxia
Não é incomum que crianças com dispraxia tenham outros problemas de aprendizado e atenção. Os médicos chamam isso de comorbidade. As mais comuns são a dislexia, discalculia, disgrafia e TDAH.

3 Tratamento
Os tratamentos da dispraxia visam melhorar as limitações apresentadas pela criança, a fim de integrá-la nas atividades em grupo. É aconselhável aplicar técnicas para melhorar a auto-estima e ensiná-las a administrar e canalizar emoções.
O problema é agravado quando pais, familiares e educadores privam as crianças de estímulos que poderiam ajudá-las a melhorar. Aprender a tocar um instrumento,  praticar algum esporte e pintar são exemplos de atividades que podem ajudar.

Não existe medicamento para tratar a Dispraxia, porém se o médico recomendar algum medicamento para problemas de atenção, isso poderá auxiliar. É recomendável acompanhamento com Terapeuta Ocupacional e Fonoaudiólogo.


A CRIANÇA COM DISPRAXIA NO ESPAÇO ESCOLAR

Para uma criança com Dispraxia,  o  sucesso está baseado numa  educação que combine sempre a visão, a audição e o tato para ajudá-la a escrever e organizar o seu pensamento.

Não existe uma educação efetiva, que não baseie no vínculo  entre educador e educando. Garantido esse vínculo, o desafio é buscar uma atuação pedagógica compatível eficaz.  Isso implica em exercer uma atitude que respeite e valorize às individualidades, que respeite às dificuldades, e que este já atenta ao processo de cada aluno. Significa dizer que o desafio não está simplesmente centrado nas informações que devem ser transmitidas, mas como serão trabalhados os conteúdos previstos no currículo.
A necessidade de encaminhar o aluno para tratamento e colaborar nesse tratamento é de suma importância por parte do professor que deseja ajudar seus alunos. Mas deve também estar consciente de que o atendimento gratuito muitas vezes demora muito para iniciar e que a maioria das famílias das crianças não conseguem arcar com as despesas de um tratamento particular. Só através de um trabalho paciente e constante o professor poderá prestar  ajuda que a criança tanto precisa. Cabe ao professor recorrer a diversas atividades e técnicas de ensino e descobrir qual delas melhor se adapta a cada criança em cada contexto.
Reconhecer as características é o primeiro passo para que se possa evitar anos de dificuldades e sofrimentos, induzindo esta criança, fatalmente ao desinteresse pela escola e a tudo o que está em torno dela.

Estratégias de Ensino para a criança com Dispraxia
É nos níveis básicos que as crianças com Dispraxia têm mais dificuldades de aprendizagem pois a compreensão é média, mas a expressão desta compreensão é limitada. Logo, é nesse estágio que essas crianças precisam ser treinadas para melhorar a expressão. Em suma, é necessário que ocorra adaptações no sistema educacional para garantir que o ensino dessas crianças seja eficiente. A inclusão dessas crianças seja bem sucedida será necessário métodos de ensino diferenciados dos que são usados no cotidiano.
Também as crianças com Dispraxia nas séries iniciais da Educação Básica podem achar a expressão mais fácil usando outras formas de expressão, ou seja, canções, rimas, danças, etc. Na mesma linha para ajudar a expressão da compreensão e ensinar como expressar corretamente podem-se usar os outros sentidos, como o tato. Estas são técnicas de ensino que todas as crianças podem usar, portanto, isso não impedirá os outros alunos das séries iniciais participem; além de permitir que o professor seja mais inovador e criativo.
Missiuna (2003) descreve uma série de atitudes para facilitar o aprendizado da criança com Dispraxia:
1 Certifique-se de que a criança esteja posicionada apropriadamente na carteira para começar qualquer trabalho. Certifique-se de que os pés da criança estejam totalmente apoiados no chão; que a carteira tenha altura apropriada e que os antebraços estejam confortavelmente apoiados sobre a mesma.
2 Tente traçar metas realistas e de curto prazo. Isso vai garantir que, tanto a criança como a professora, continuem motivados.
3 Tente dar um tempo extra para que a criança complete atividades motoras finas, tais como matemática, escrita, redação, atividades práticas de ciências e trabalhos de arte. Se há necessidade de velocidade, esteja disposta a aceitar um produto de menor qualidade.
4 Quando copiar não for o objetivo, tente preparar folhas de exercício impressas ou pré-escritas para permitir que a criança foque na tarefa. Por exemplo: dê-lhe folhas com exercícios de matemática previamente preparados; páginas com perguntas já escritas, ou em exercícios de compreensão de texto, ofereça lacunas para preencher. Para estudar em casa, faça fotocópia das anotações feitas por outro aluno.
5 Introduza computador o mais cedo possível, para reduzir a quantidade de escrita à mão que é exigida em períodos mais avançados de escolaridade. Apesar de, a princípio, digitação ser difícil, essa é uma habilidade que pode ser de grande benefício e, na qual, crianças com problemas de movimento podem se tornar bastante proficientes.
6 Ensine às crianças estratégias específicas de escrita à mão, que as encorajem a escrever com letras de forma, ou cursiva, de maneira consistente. Use canetas hidrográficas finas ou seguradores de lápis, se eles parecem ajudar a criança a melhorar o padrão de preensão ou a reduzir a pressão do lápis no papel.
7 Use papel de acordo com as dificuldades de escrita da criança. Por exemplo:
a) linhas bem espaçadas para a criança que escreve com letras muito grandes;
b) papel com linha ressaltada para a criança que tem dificuldade para escrever dentro das linhas;
c) papel quadriculado para a criança cuja escrita é muito grande ou mal espaçada;
d) papel quadriculado, com quadrados grandes, para a criança que tem problema para alinhar os números na matemática.
8. Tente focar no objetivo da lição. Se a meta é uma história criativa, então ignore a escrita bagunçada, mal espaçada ou as várias interrupções. Se a meta é que a criança aprenda a formar um problema de matemática corretamente, então dê tempo para que isso seja feito, mesmo que o problema de matemática acabe não sendo resolvido.
9. Considere a possibilidade de a criança usar métodos alternativos de apresentação para demonstrar compreensão ou domínio do assunto. Por exemplo: a criança pode apresentar o relatório oralmente; pode usar desenhos para ilustrar suas idéias; digitar a redação ou o relatório no computador; gravar a história ou o exame no gravador.
10. Considere a possibilidade de permitir que a criança use o computador para fazer o rascunho ou a cópia final de relatório, da redação ou outros deveres. Se a professora quiser ver o produto antes das correções, peça à criança que entregue tanto o rascunho como a versão final.
11. Quando possível, permita que a criança dite redações, relatórios de livros ou respostas a perguntas de compreensão para a professora, para um voluntário ou para outra criança. Para crianças mais velhas, pode-se introduzir software para reconhecimento de voz assim que o padrão de voz da criança estiver maduro o suficiente para ser consistente.
12. Dê tempo adicional, ou acesso a computador, em provas e exames que requeiram muita escrita.

Afetividade como instrumento de Intervenção Pedagógica
Geralmente as crianças com dispraxia têm alterações no aspecto afetivo, sentem-se rejeitadas, o que dificulta sua integração com outras crianças. Portanto, elas não tentam participar de tarefas de grupo, expressando desinteresse. Às vezes apresentam  depressão óbvia ou impulsos agressivos em reação a seus problemas.
O ato de aprender associa-se a uma relaçäo com outra pessoa, aquela que ensina. O ato de aprender com alguém, o professor, nos primeiros contatos, näo é importante e, sim, a relaçäo que se estabelece. Há um grande poder de convencimento do professor sobre o aluno.
O espaço sistematizado escolar vem, ao longo de sua história, priorizando a dimensão cognitiva em detrimento ao lugar para a instância afetiva no processo de ensino-aprendizagem. Este posicionamento contribui para que os fenômenos de ensinar e aprender continuem sendo percebidos como processos racionais, em que o educador manipula o cognitivo repetindo dados que devem ser acumulados e armazenados pelo educando.
Porém se percebe que a mudança de comportamento obtido através da experiência construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais, resulta em aprender, isto é, o aprender é resultado da interação das estruturas mentais e o meio ambiente.
Muitas vezes a interação aluno e professor não se dá de forma calma e produtiva, acontecendo em meio a situações tumultuosas e conflituosas, devido às dificuldades de aprendizagem já citadas anteriormente.
Na geração passada pensava-se que o processo de aprender a ler e escrever não começava e não devia começar, antes das crianças iniciarem a escolaridade formal.
Além do método a ser utilizado na intervenção pedagógica, o professor deverá atentar pela área emocional do educando, a qual interfere de maneira significativa em seu aprender.
Por esta razão, quer os pais, quer os professores deverão valorizar todos os progressos obtidos pelas crianças, centrando-se mais nas pequenas conquistas do que nas falhas. A escola deverá ser marcada por observações positivas e por uma atitude de apoio..
Na dispraxia, como em todas as outras necessidades educativas especiais, só pode haver sucesso adotando uma pedagogia diferenciada e compreendendo que por trás do mau comportamento e do desinteresse existe freqüentemente um pedido de ajuda.


A LEITURA E A ESCRITA NA DISPRAXIA
O período da alfabetização é o momento onde há superposição de habilidades para que a criança aprenda a ler e escrever.  Para que a aprendizagem ocorra, haverá uso de habilidades cognitivas, lingüísticas e motoras, sendo necessário a capacidade de decodificação das palavras e a ação motora adequada para a produção da escrita, da leitura e soletração.
A construção da aprendizagem da escrita e da leitura é um processo evolutivo   ligado ao desenvolvimento geral da criança. O aprendizado da leitura e da escrita está associado a um conjunto de elementos, estabelecidos através das condições sociais e educacionais, dependendo de habilidades especificas e condições favoráveis para que a criança desempenhe de forma mais significativa seu aprendizado.
Pesquisas demonstraram que crianças com dispraxia cujas dificuldades de fala persistem além dos 5 e 6 anos correm o risco de ter dificuldades de alfabetização. O risco aumenta se houver um histórico familiar de fala, linguagem ou dificuldades específicas de aprendizagem.
A criança com dispraxia  tem um sistema de processamento de fala prejudicado, que afeta sua capacidade de fazer ligações das sílabas e realizar tarefas de consciência fonológica (por exemplo, segmentação, mistura, rima, etc.) essenciais para a aquisição da alfabetização. A escrita é geralmente mais afetada do que a leitura.

Leitura
Crianças com dispraxia podem ter dificuldades com leitura, exatamente por terem déficit da Coordenação Viso Motora sendo que a concentração limitada, pouca capacidade de ouvir e o uso literal da linguagem podem afetar, principalmente no caso da criança também apresentar problemas com a fala.
A ausência da dominância na organização espacial acarretará na criança uma dificuldade de “locomover os olhos durante a leitura obedecendo ao sentido esquerda-direita e chegando mesmo a saltar uma ou mais linhas”, além de confundir as letras com escrita em direções opostas, como “b e d”, “t e f”, “n e u” “p” e “p e q”.
Em relação a organização temporal, a criança com dispraxia não apresenta um padrão de ritmo, não conseguindo identificar os intervalos de tempo, encontrando dificuldade de dar seqüência em uma leitura de um trecho de uma página pois seus olhos não conseguem acompanhar o texto.
Poderá também relutar em ler em voz alta por causa de dificuldades de articulação ou por falta de autoconfiança.

A Escrita
O aprendizado da escrita depende de Coordenação Motora Global, visto que a postura ao realizar este aprendizado é um fator de grande importância para sua construção. A criança então posiciona o cotovelo sobre a mesa, com a devida distância do cotovelo sobre o corpo, usando a rotação da mão apropriada. São movimentos que progridem no momento em que a criança se articula sobre o traçar do lápis no papel.
Ao escrever, encontram dificuldades em perceber os espaços entre as palavras, não apresentando as noções de “em cima” e “embaixo”, “antes e depois”, e na “formação das palavras, escreverá inicialmente a segunda letra antes da primeira (“ap” para “pa”), mesmo que tenha decomposto as sílabas corretamente”
Normalmente, a escrita é a área mais afetada pela dispraxia. A razão disso é que, para que a criança adquira os mecanismos da escrita, além da necessidade de saber orientar-se no espaço (motricidade ampla), deve ter consciência de seu corpo e ter a capacidade de individualizar os dedos (motricidade fina) para pegar o lápis ou a caneta e então conseguir riscar, traçar, escrever ou desenhar o que quiser. A criança costuma ser lenta para escrever, desorganizada, com um traçado rígido ou débil, com dificuldades nos espaços entre as letras, assim como no formato e tamanho.

Distúrbios na coordenação viso motora
 A coordenação viso motora está presente sempre que um movimento dos membros superiores ou inferiores ou de todo o corpo responde a um estímulo visual de forma adequada.
Ao traçar uma linha a criança, ao mesmo tempo em que segue com os olhos a ação de riscar, deve ter em mira o alvo a atingir. Isso implica sempre ter atenção a algo imediatamente posterior à ação que está realizando no momento presente. A criança com dispraxia não consegue traçar linhas com trajetórias pré determinadas, pois apesar de todo o esforço, a mão não obedece ao trajeto previamente estabelecido.
Esses problemas repercutem negativamente nas aprendizagens, uma vez que para aprender e fixar a grafia é indispensável que a criança tenha conveniente coordenação olho/mão, da qual depende a destreza manual. Os esforços para focalização visual distraem a sua atenção e ela perde a continuidade do traçado das letras e suas associações.

Deficiências na organização espacial e temporal
Quando falamos em organização espacial e temporal nos referimos à orientação e à estrutura do espaço e do tempo: é o conhecimento e o domínio de direita-esquerda, frente/atrás/lado, alto/baixo, antes/depois/durante, ontem/hoje/amanhã, etc., que a criança deve ter desenvolvido para construir seu sistema de escrita. A criança com dispraxia, normalmente apresenta dificuldades ao escrever, invertendo letras, combinações silábicas, sob o ponto de vista de localização, o que denota uma insuficiência da análise perceptiva dos diferentes elementos do grafismo. Ela não consegue, também, escrever obedecendo ao sentido correto de execução das letras, nem se orientar no plano da folha, apresentando má utilização do papel e/ou escrevendo fora da linha. É natural, ainda, que encontre dificuldade na leitura e na compreensão de sentido de um texto, como decorrência da desorganização espacial e temporal.

Problemas de lateralidade e direcionalidade
Sabemos que a dispraxia manifesta-se por meio dos gestos imprecisos, dos movimentos desordenados, da postura inadequada, da lentidão excessiva, etc. Entre as crianças com dificuldades motoras, muitas podem apresentar problemas relativos à lateralidade e que podem provocar ou ser provocados por perturbações do esquema corporal, pela má organização do espaço em relação ao próprio corpo. As perturbações da lateralidade podem apresentar-se de várias maneiras:
1 Lateralidade Indefinida
Caracteriza-se pela não-definição da dominância, em especial, da mão direita ou esquerda. Uma dominância não claramente definida pode ser, também, causa de certas dificuldades, como, por exemplo, inversão de letras na leitura e/ou na escrita, confusão de letras de grafismos (traçados)parecidos, mas com orientação espacial diferente. O que conhecemos como escrita espelhada também pode ser decorrência da lateralidade indefinida.
2 Sinistrismo ou Canhotismo
Dominância do uso da mão esquerda. A eficiência da mão esquerda, nas crianças canhotas é inferior à da mão direita nas destras, tanto pela velocidade quanto pela precisão, em geral. Podemos observar que essas crianças, bem como as destras, podem apresentar, muitas vezes, problemas de orientação e estruturação espacial que tendem a acentuar-se com a idade, durante certo período de seu desenvolvimento. Na verdade, um canhoto pode escrever com a mesma destreza e facilidade de um destro. Porém, para chegar aos mesmos resultados, a criança canhota deve percorrer uma série diferente de movimentos e de ajustamentos motores.
3 Lateralidade Cruzada
Caracteriza-se pela dominância da mão direita em conexão com o olho esquerdo, por exemplo, ou da mão esquerda com o olho direito. - sinistrismo ou canhotismo contrariado a dominância da mão esquerda contraposta ao uso forçado e imposto da mão direita pode comprometer a eficiência motora da criança, na orientação em relação ao próprio corpo e na estruturação espacial.


Fonte: TCC apresentado à Braz Cubas

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