quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Avaliação Educacional - O Estado promove ao mesmo tempo a expansão da educação e do mercado

No caso da gestão de processos de avaliação, ou melhor, da avaliação como estratégia de gestão, o Estado, ao mesmo tempo que favorece a sua expansão, promove a expansão do mercado (quase mercado educacional), pela publicação dos resultados e pela própria definição de produtos educacionais. Atuando como Estado-avaliador, amplia as suas funções de Estado e se expande, mas por outro lado, quando está submetido à lógica do mercado (das políticas neoliberais para a educação e da própria lógica hegemônica da globalização), compromete-se a compartilhar com ele os resultados, desenvolve uma lógica privatista, em que os resultados passam a ganhar mais força do que os processos, e a eficâcia, a eficiência e  efetividade definem a qualidade do produto educacional em detrimento da avaliação para a qualidade social - neste sentido torna-se mais mercado e menos Estado.

É imperativo ético criticarmos esta ênfase nos resultados dada pelo Estado-avaliador, para comprendermos as fuções latentes e manifestas dos processos de gestão da educação, através da avaliação educacional, como aponta Afonso (2000), entre outros autores e autoras. Torna-se necessário, portanto, intensificar a problematização sobre os seguintes pontos:
  • o que é domínio publico e domínio privado (no interior do Estado) - análise das contradições
  • relação entre avaliação e gestão - funções manifestas e latentes da gestão dos processos de avaliação pelo Estado;
  • avaliação centrada na eficiência e na produtividade sob o controle do Estado;
  • desvalorização da avaliação de processos;
  • mudança no eixo das recompensas - tônica nos resultados/meritocracia;
  • responsabilidade individual por resultados;
  • relação entre a responsabilização credível e a competição entre seotres e serviços.
É portanto, necessária uma indagação crítica sobre esta ênfase nos resultados dada pelo Estado-avaliador, como aponta Afonso (2000), entre outros autores e autoras. Ele propõe uma discussão sobre qual a lógica que deve reger os pilares do "novo projeto para a educação".

Na visão de Albuquerque (1997), Afonso(2000), Abramowicz (2001), Dias Sobrinho e Ristoff (2000, p.7), precisamos investigar os efeitos da ideologia do mercado na educação e na avaliação e suas consequências, para construirmos alternativas capazes de realizar a avaliação ética e crítica, reforçando a participação popular em seus diferentes níveis e instituições.

Concordamos com Flip et al. (1991) que, através da avaliação, a escola se verá desafiada a abrir suas portas e tornar transpartente seu fazer educativo. Isto é muito importante, pois podemos conhecer o tipo de projeto político-social a que a escola está a serviço. Não existe avaliação da escola que não seja para implementar um dado modelo de escola ou de politica educacional.

Torna-se assim, imprescindível, colocarmos os pés no chão da escola e tentar (re)criar novas p´raticas educativas, das quais emanem novos saberes, novas visões contra-hegemônicas pelo pensar e agir críticos: pela praxis libertadora. Como explicam Dias Sobrinho e Ristoff, a avaliação precisa cumprir a respondabilidade ética e política de possibilitar a participação ativa e democrática da comunidade na vida pública.

Por esta razão, os resultados avaliativos precisam ser amplamente comprendidos nas suas origens, nos seus processos de construção e interpretação; socializados, debatidos, problematizados, ressignificados, aliando-se a um conjunto de outras informações relevantes e significativas que tecem o projeto educacional, tendo como "pano de fundo" o cenário social, político e ecônomico atual.

Ferrer (1995) depois de fazer uma análise das políticas nacionais de avaliação em países como a França, Suécia, Noruega, Espanha, Argentina, Chile, Holanda, Reino Unido, Dinamarca e Suiça, chega à conclu~são de que os sitemas de avaliação de vase quantitativa já não estão dando conta da diversidade e complexidade dos fenomenos educacionais, e insiste no caráter político/qualitativo da avaliação muito mais que na sua avaliação educacional. Explica que há consenso, nestes países, da necessidade da avaliação educacional, mas que haver significativas mudanças metodológicas, sob pena de haver falsas interpretações e muito desperdício de tempo, dinheiro e esforço. Apoiando-se em House (1993) ressalta a necessidade de inclusção de avaliação entre os mecanismos de gestão dos sistemas educativos, uma ampliação de seus âmbitos de cobertura, uma maior interdisciplinaridade e uma ampla participação dos educadores nesse processo.

Dias Sobrinho, analisando as políticas públicas de avaliação no Brasil, explica que a avaliação nacional é questionada, principalmente, por não ter ultrapassado as suas funções burocráticas nem provocado alterações significativas nos sistemas de ensino. Os modelos tradicionais de avaliação, calcados em testagem e na aplicação de densos questionários, elaborados por equipes de especialistas que, na maioria das vezes, não enfrentam o cotidiano da escola, vêm sendo criticados em tofo o mundo.

Os órgãos gerenciadores das politicas públicas de avaliação, no Brasil, já reconhecem a necessidade de cada estado  e municípioorganizar processos de avaliação que possam ionteragir com a realidade das escolas, para que se amplie o diálogo entre as avaliações nacionais e as locais.

Uma visão crítica dessas políticas vem apontando para a urgência de os educadores e educadoras posicionarem-se como sujeitos críticos, construtores do projeto político-pedagógico da escola, para criarem um nova cultura da avaliação que inclua ao invés de excluir: emancipe, exercenco a autonomia para não domesticar e escravizar; organizae, estimulando a participação e o diálogofranco, aberto e crítico para não fragmentar e isolar; qualifique a aprendizagem e a própria avaliação de alegria, curiosidade, ciência, investindo na unidade do pensar, do sentir, do fazer e do conviver na justiça, na dignidade e na solidariedade, para romper com a regulação e se recriar como emancipação, para não destruior o sonho, a esperança e o direito de cada ser humano de ser feliz e exercer a liberdade.

Precisamos ser co-construtores do novo cenário - o cenário da solidariedade.


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