Resumo
GERALDI, J. W. Concepções de Linguagem
e Ensino de Português. ______ (ORG.). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2006, p. 39-46
1)
O Baixo Nível de Utilização da Língua
Algumas afirmações:
a)
No
inventário das deficiências que podem ser apontadas como resultados do que já
nos habituamos a chamar de “crise do sistema educacional brasileiro”, ocupa
lugar privilegiado o baixo nível de desempenho lingüístico demonstrado por
estudantes na utilização da língua, quer na modalidade oral, quer na modalidade
escrita.
b)
[...]
a juventude de hoje não consegue se expressar seu pensamento.
c)
[...]
estando a humanidade na “era da comunicação”, há incapacidade generalizada de
articular um juízo e estruturar linguisticamente uma sentença.
d)
E,
para comprovar tais afirmações, os exemplos são abundantes: as redações de
vestibulandos, o vocabulário da gíria jovem, o baixo nível de leitura
comprovável facilmente pelas baixas tiragens de nossos jornais, revistas, oras
de ficção, etc.
Apesar
[...] dessas afirmações e dos equívocos de algumas explicações, é necessários
reconhecer o fracaço da escola e, [...] do ensino de língua portuguesa tal como
vem sendo praticado [...].
Reconhecer
e mesmo partilhar com os alunos tal fracasso não significa, em absoluto,
responsabilizar o professor pelos resultados insatisfatórios [...].
[...]
sabemos que a educação “tem muitas vezes sido relegada à inércia
administrativa, a professores mal pagos [...], verbas escassas [...].
Aceitamos
[...] a premissa de que apenas a igualdade social e econômica garante a
igualdade de condições para ter acesso aos benefícios educacionais. Mas
acreditamos também que, no interior das contradições que se presentificam na
prática efetiva de sala de aula, poderemos buscar um espaço de atuação
profissional em que se delineie um fazer agora, na escola que temos, alguma
coisa que nos aproxime da escola que queremos, mas que depende de determinantes
externos aos limites da ação da e na própria escola.
2) Uma Questão Prévia: a
Opção Política e a Sala de Aula
[...]
sobre a atividade de sala de aula, é preciso que se tenha presente que toda e
qualquer metodologia de ensino articula uma opção política – que envolve uma
compreensão da realidade – com os mecanismos utilizados em sala de aula.
[...]
uma questão prévia – para que ensinamos o que ensinamos? Para que as crianças
aprendem o que aprendem? O “para que” dará efetivamente as diretrizes básicas
das respostas.
Ora,
no caso do ensino de língua portuguesa, uma resposta ao “para que” envolve
tanto uma concepção de linguagem
quanto uma postura relativamente à educação. Uma e outra se fazem presentes na
articulação metodológica.
3) Concepções de
Linguagem
a)
A
linguagem é a expressão do pensamento: ligado a gramática tradicional;
b)
A
linguagem é instrumento de comunicação: ligado ao estruturalismo e o
transformacionalismo;
c)
A
linguagem é uma forma de interação: ligado a lingüística da enunciação.
A
discussão aqui proposta procurará se sitiar no interior da terceira concepção
da linguagem.
4) A Interação Linguística
A
língua só tem existência no jogo que se joga na sociedade, na interlocução. E é
no interior de seu funcionamento que se pode procurar estabelecer as regras de
tal jogo.
Estudar
a língua é então tentar detectar os compromissos que se criam por meio da fala
e as condições que devem ser preenchidas por um falante para falar de certa
forma em terminada situação concreta de interação.
Dentro
de tal concepção, já é insuficiente fazer um tipologia entre frases
afirmativas, interrogativas, imperativas e optativas a que estamos habituados,
seguindo manuais didáticos ou gramáticas escolares. No ensino da língua, nessa
perspectiva, é muito mais importante estudar as relações que se constituem
entre os sujeitos no momento em que falam do que simplesmente estabelecer
classificações e denominar os tipos de sentenças.
5) A Democratização da
Escola
Tal
perspectiva, ao jogar-nos diretamente no estudo da linguagem em funcionamento,
também não obriga a uma posição, na sala de aula, em relação às variedades
linguísticas. Refiro-me ao problema, enfrentado cotidianamente pelo professor,
das variedades, quer sociais, quer regionais. [...] tais variedades
correspondem a distintas gramáticas – como agir no ensino?
Parece-me
que um pouco da resposta à perplexidade de todos aqueles que [...] estão
envolvidos no sistema escolar [...] pode ser buscado no fato de que a escolar
hoje não recebe apenas alunos provenientes das camadas mais beneficiadas da
população.
A
democratização da escola, ainda que falsa, trouxe em seu bojo outra clientela e
com ela diferenças dialetais bastantes acentuadas. De repente, não damos aula
só para aqueles que pertencem a nosso grupo estão sentados nos bancos
escolares.
[...]
fatores históricos (econômicos e políticos) determinaram a “eleição” de uma forma
como a língua portuguesa. As demais formas de falar, que não correspondem à
forma eleita, são todas postas num saco e qualificadas como “errôneas”,
“deselegantes” [...].
[...]
uma variedade lingüística vale o que valem na sociedade os seus falantes [...]
(Gnerre, 1978).
A
transformação de uma variedade lingüística em variedade “culta” ou “padrão”
está associada a vários fatores, entre os quais Gnerre aponta:
a)
a
associação dessa variedade à modalidade escrita;
b)
a
associação dessa variedade à tradição gramatical;
c)
a
dicionarização dos signos dessa variedade;
d)
a
consideração dessa variedade como portadora legítima de uma tradição cultural e
de uma identidade nacional.
Agora,
dada a situação de fato em que estamos, qual poderia ser a atitude do professor
de língua portuguesa? Qual a postura a ser adotada pelo professor?
6) Dominar que forma de
Falar?
“A
linguagem constitui o arame farpado mais poderoso para bloquear o acesso ao
poder”: a linguagem falada pela classe dominante é a eleita pela sociedade e as
demais são excludentes. Como isso será tratado em relações ao ensino de língua
portuguesa?
Dois
pensamentos:
a)
Há
um grupo que pretende que deva ensinar na escola que a variedade é tão
linguisticamente válida quanto ao padrão e todos devem respeitar as variedades.
Para isso o material didático é preparado para atender essa necessidade.
b)
Outro
grupo defende que as classes populares devem aprender o dialeto padrão para
saber exercer suas relações de poder com as classes dominantes, porém sem
deixar o conhecimento adquirido com os familiares.
O
autor observa que o segundo pensamento se sobrepõe ao primeiro porque a
linguagem deixa de ser um entrave, mas passa a funcionar como um instrumento de
desbloqueio.
7) Ensino da língua e
Ensino da Metalinguagem
Se
o objetivo das aulas de língua portuguesa é oportunizar o domínio do dialeto
padrão, devemos acrescentar outra questão: a dicotomia entre ensino da língua e
o ensino da metalinguagem.
Dois
métodos de ensino do dialeto padrão:
a)
Ensino
tradicional: ensino mecânico com base na apreensão de vocabulários, designações
dos termos gramaticais, memorização de verbos, analises sintáticas feitas com
frases isoladas, etc.
b)
Outro
método de ensino: a língua é um instrumento de comunicação. O aluno aprende o
que é mensagem, código, emissor, receptor. Aprende as diversas formas de se
comunicar por meio dos gêneros textuais, etc.
Dos dois
métodos empregados principalmente no ensino do 1º grau o autor admite o segundo
como mais eficaz.
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