Desenvolvimento econômica x Desenvolvimento sustentável
O desenvolvimento das sociedades modernas, há pelo menos 200 anos, tem se baseado essencialmente no desenvolvmento econômico. Teorias e práticas econômicas empenharam se em compreender e aplicar formulas e modelos de administração da casa (oikos), as quais seriam mais ou menos eficientes para garantir a ordem da produção, da distribuição e do consumo de tudo aquilo que se tornou necessidade para a sobrevivencia e o bem estar dos seres humanos. Evidentemente, tais necessidades não são intrisecamente necessárias à natureza humana, mas foram desencadeadas pelas sociedades capitalistas, constituídas pela riqueza, baseadas no valor de troca e na obtenção do lucro.O desenvolvimento econômico passou a ser considerado a medida do projeto civilizatório e do progresso humano, o meio pelo qual o homem se desprenderia das limitações impostas pela natureza e alcançaria a sua emancipação. Todavia, restrito à lógica da economia, o conceito de desenvolvimento se mostrou historicamente limitado, a civilização tornou-se um projeto inacabado (e corre o risco de se transformar numa barbárie) e a idéia de progresso econômico se evidenciou um mito, uma racionalidade sustentável.
Ora, o progresso econômico é insustentável porque se baseia na acumulação da riqueza, e nas sociedades modernas ele se baseia na acumulação exponencial de riqueza. Mas para um individuo, uma família ou um pais manter, sustentar certo nível de enriquecimento material requer uma seqüência crítica permanente de esforços dirigidos à neutralização de ameaças que tendem a pairar permanentemente sobre a riqueza (Cavalcanti, 1996, p.325)
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A crise ecológica, a partir dos anos 1960, evidencia os limites do crescimento e as desordens globais derivadas de uma racionalidade técnica e econômica que se mostrou incapaz de garantir, em âmbito mundial, a produtividade crescente sem que ocorressem danos para o ambiente e para sociedade. E, certamente, isso não aconteceu porque não foram empregadas medidas econômicas adequadas, mas porque se dissociou a economia (administração da casa) da ecologia (estudo da casa) ignorando suas interações e inter dependências.
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Aludir ao desenvolvimento sustentável significa compreender que alguns comportamentos econômicos devem ser abandonados em favor de uma conduta amis equilibrada diante da natureza, o que significa em última análise, buscar eficiência máxima de recursos com o mínimo de perdas físicas. Como os ideais e as práticas de desenvolvimento econômico e social, delineados pelas sociedades européia e norte americana, tornaram-se parâmetros mundiais, as partes do globo que não alcançaram os mesmos patamares de desenvolvimento são forçados a rever suas políticas econômicas e estabelecer políticas ambientais para não reproduzir localmente problemas que as sociedades capitalistas "avançadas" geraram em âmbito global. Daí ser o ecodesenvolvimento, proposto por Sachs, e hoje mais conhecido como desenvolvimento sustentável, a busca para a sociedade contemporânea, de uma razão que respeite os próprios limites e que integre racionalidades distintas, como a econômica, a política, a cultura e ecológica. Um estilo de desenvolvimento, ou novos modelos de desenvolvimento, que, na concepção de Sachs, apresentam as seguintes características:
- valorização dos recursos específicos de cada região para satisfazer as necessidades fundamentais da população em termos de alimentação, habitação, saúde e educação;
- priorização da realização humana;
- exploração dos recursos naturais dentro de uma perspetiva sincrônica com todos os homens de nossa geração e diacrônica com as gerações futuras
- redução do impacto das atividades humanas mediante adoção de procedimentos de transformação de resíduos em insumos
- redução de consumo de energia proveniente de fontes comerciais
- adoção de estilo tecnológico particular, com aperfeiçoamento das eco técnicas;
- formação de quadro institucional que considere as especificidades locais, a complementariedade das ações empreendidas, a participação efetiva das populações locais e a garantia da não espoliação dessas populações;
- fortalecimento de um processo educativo que sensibilize a população quanto aos aspectos ecológicos do desenvolvimento, modificando o sistema de valores em relação à dominação da natureza.
Globalização e Discursos de Sustentabilidade
O debate sobre a questão ambiental afirma-se no cenário mundial a partir da crise do paradigma de racionalidade da sociedade ocidental, do modelo de desenvolvimento e do processo de globalização militar, econômica, política, cultural, tecnológica e informacional. A expressão desenvolvimento sustentável ganhou mais força com a elaboração e ampla divulgação do Relatório Brundland, no final dos anos 1980, e a partir de então vem sendo usada, legitimada e oficializada por entidades públicas e privadas, tornou-se um discurso, ou melhor, a base para diversos discursos de sustentabilidade nem sempre convergentes. Acselrad por exemplo, destaca cinco matrizes de discursos associados á noção de sustentabilidade:- matriz de eficiência que pretende combater o desperdício de base material do desenvolvimento, estendendo a racionalidade econômica ao espaço não mercantil planetário;
- matriz da escala, que propugna um limite quantitavo ao crescimento econômico e á pressão que ele exerce sobre os recursos naturais
- matriz da equidade, que articula analiticamente princípios de justiça e ecologia
- matriz da auto suficiência, que prega a desvinculação de economias nacionais e sociedades tradicionais dos fluxos do mercado mundial como estratégia para garantir a capacidade de auto regulação comunitária das condições de reprodução da base material de desenvolvimento;
- matriz da ética, que inscreve a apropriação social do mundo muterial em um debate sobre os valores de bem e de mal, evidenciando as interações da base material do desenvolvimento com as condições de continuidade da vida no planeta.
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É possível sustentabilidade como alternativa de desenvolvimento?
...Desenvolvimento sustentável é um conceito em torno do qual se estabeleceu um certo consenso mundial, que se coloca, hoje, como única alternativa para o desenvolvimento baseado no crescimento econômico, material. Isso não se significa a crença generalizada de que é preciso abolir o crescimento econômico, mas é preciso revê-lo, modificá-lo, ajustá-lo às condições ditadas pela natureza, base material que sustenta e garante a continuidade da vida humana. Não há garantia de sustentabilidade total do planeta terra. O processo de destruição e de degradação ambiental geradas pelas atividades humanas no decorrer da história já gerou muitas perdas de capital natural. O que se reconhece hoje é a necessidade de desacelerar o processo de degradação, evitando mais perdas em pouco tempo. Isso pode ser considerado, por exemplo, quando se faz referência ao uso dos recursos não renováveis de modo sustentável. Se uma fonte de recursos não ´pe renovável, pode-se garantir alguma sustentabilidade fazendo uso dela? Alguns estudiosos, especialmente economistas, dizem que sim, desde que se considere que a sustentabilidade não é um remédio para todos os males causados pela civilização, mas sim uma alternativa operacional para enfrentar os problemas ambientais.
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