segunda-feira, 3 de novembro de 2014

História: Como se contava o tempo?

BREVE HISTÓRIA DA CONTAGEM DO TEMPO




Desde que nascemos somos inseridos numa cultura que parece escrava do tempo. O ser humano é mesmo fascinado por essa “coisa”, que não podemos definir ao certo. Na realidade, diante da sociedade dita cada vez mais moderna o tempo se tronou uma obsessão, quando não uma opressão.
 Antigamente não se media nada, depois contou-se os dias, em seguida as semanas, meses e anos e nesse meio tempo as horas já haviam sido inventadas. Hoje contamos os minutos, segundos, milésimos e já existem os ioctossegundos, a menor unidade de tempo existente até agora. O ioctossengundo é representado pela fração 10-24, ouo número 1 antecedido por 24 zeros!
Pode-se definir tempo como um sistema de medições usado para sequenciar eventos, para comparar suas durações, seus intervalos, e para quantificar o movimento de objetos. A palavra também é utilizada para se referir aos fenômenos da natureza, o que mostra as dificuldades em defini-la. Porém, como a religião, a filosofia e as variadas ciências possuem definições próprias, o conceito de tempo é um dos mais problemáticos de se definir, não havendo consenso universal. Etimologicamente, a palavra deriva do latim tempus, relativa às estações do ano.
A história do tempo se confunde com a história dos dias, que embora relacionados, não são a mesma coisa. O tempo é a medida e o dia, a noite ou as estação, a duração. Mas quando e porque começamos a contá-lo e medi-lo? E qual a sua finalidade? Essas são apenas duas de inúmeras outras perguntas que podem surgir diante dessa temática. Nesse texto tentarei respondê-las através de uma breve (na realidade brevíssima!) história das contagens do tempo, melhor dizendo dos dias me detendo nos Tempos Antigos. Dessa forma encerro este texto na chamada Reforma Juliana do calendário romano. Em outra oportunidade retomarei a temática.
Para favorecer aos leitores que por algum motivo tenham pressa ou caso a escrita esteja cansativa, esse texto pode ser lido no todo ou em partes, conforme os seus tópicos, sem prejuízo de informação.
Tempo, esse desconhecido que nos fascina.
Possivelmente a descoberta da existência do tempo, ou do que viria sê-lo, tenha se dado com a percepção dos dias e das noites. Os homens antigos observaram que havia uma força que fazia as árvores perderem suas folhas, mas também fazê-las crescer novamente, fazia as flores desabrocharem e murcharem com determinada regularidade, e sabiam que essa mesma força trazia o dia e a noite. A essa força denominaram tempo. Essas observações levaram o homem a criar formas de medi-lo, pois sabiam que sua existência dependia de seus ciclos. E assim, também, nasceu o fascínio humano pelo tempo, fascínio esse que não é algo aleatório, mas uma coisa essencial para a sobrevivência da espécie humana.
Não se pode precisar quando o homem tenha aprendido a contar o tempo, mas ao fazer a revolução agrícola entre o nono e sétimo milênio antes da Era Cristã o homem já conhecia os ciclos naturais e isso levou ao desenvolvimento das primeiras civilizações, o que mostra a importância do tempo para os seres humanos.
Nesse período os homens estavam aperfeiçoando formas de medir e calcular o tempo. Isso só foi possível graças às observações astronômicas. Os sumérios, talvez os primeiros povos a observarem o cosmos, já possuíam um esquema planetário que contava doze planetas (contando como tal a Lua), cinco mil anos antes da “descoberta” dos planetas circunvizinhos. Conhecimentos básicos da relação entre a Terra, o Sol e a Lua foram necessários para o estabelecimento dos dias, das noites e das estações. Através dessas observações foram determinadas as semanas e posteriormente os meses e anos. Não por acaso, foram os sumérios que criaram a primeira ideia de calendário que conhecemos.
Os dias e seus nomes.
As primeiras medidas temporais foram justamente as do domínio do Sol e da Lua sobre a Terra. A este deram o nome de dia e aquele de noite, originalmente sem se preocuparem com a quantidade de horas que cada um possuía – em realidade essa medida ainda não existia. Vários povos se preocuparam em definir quando um começava e o outro terminava. Os judeus e muçulmanos, por exemplo, mediam e ainda medem o dia a partir dos crepúsculos, os romanos por sua vez, o contavam a partir da aurora, os egípcios ora de uma forma ora de outra e assim por diante, cada povo fazia da forma que lhes conviesse.
A observação solar levou à determinação dos dias e noites e as da Lua à determinação das semanas. Percebendo que a Lua apresentava variações na forma como se mostrava, o homem passou a medir quantos dias levava para que os ciclos se completassem,  observaram que cada fase demorava em média sete dias para se concluir, por isso originalmente a semana era chamada de septimana (sete manhãs). Os caldeus, babilônicos e outros povos do Oriente Médio assim procederam, com maior ou menor frequência, e também outros povos por influência destes – não se deve esquecer que os povos da chamada Antiguidade sempre estiveram conectados. Contudo, foi apenas no ano 325 da Era Cristã que a semana teve legalizada a sua duração de sete dias.
O nome dos dias correspondeu a critérios religiosos, por isso receberam nomes de deuses antigos. No ocidente ainda hoje assim se conservam, sendo o Português a única língua ocidental a alterar a nomenclatura original. Por “nomes originais” deve-se entender a classificação romana, que nomeou os dias do primeiro ao sétimo de acordo com a importância da divindade que emprestaria o nome proteção. Assim sendo, o primeiro dia foi consagrado ao Sol, o segundo à Lua, o terceiro ao deus da guerra, Marte, o quarto a Mercúrio, protetor do progresso e do comércio bem sucedido, o quinto a Júpiter, a Vênus o sexto e a Saturno o sétimo.
Tempos depois, para se livrar desses nomes, os cristãos aproveitaram o antigo costume romano de numerar os dias a partir do sábado. Dessa forma foram denominados de prima sabbati (domingo), secunda sabbati (segunda) e assim por diante até o sabbati (sábado). São Justino (100-165), porém, denominou o primeiro dia da semana de domingo, dies Dominica (dia do senhor), nome confirmando no ano 300 da Era Cristã, no Concílio de Elvira. Ainda no século IV, o papa Silvestre (285-335) confirmou essa forma de nomear os dias, mas determinou que não se numerasse o primeiro dia, domingo, nem o último, sábado.
Mas a questão dos nomes da semana no Ocidente ainda não estava concluída. Nos primeiros tempos da fé cristã a Páscoa era comemorada ao longo da semana em que essa data coincidia. O imperador Constantino (272-337), ordenou que nessa semana todos os dias fossem feriae (raiz da palavra feriado), dias dedicados às práticas religiosas. Como o feriae era o denominador comum a todos os dias da semana da Páscoa, era preciso dar um nome que os distinguisse, seguindo a determinação do papa Silvestre e utilizando o costume de numerar os dias, conservaram o dies Dominica e passaram a chamar os seguintes de secunda feriaeterça feriaequarta feriae,quinta feriae, sexta feriae, e sabbati.
Com o tempo essa nomenclatura tornou-se de uso comum para todas as semanas ao longo do ano, se tornando um dos maiores exemplos de alteração prosódica por ação do uso popular da história. Essa nomenclatura foi empregada em todos os reinos cristãos, porém, somente se conservou no Português. Os demais idiomas ocidentais retomaram os antigos nomes romanos. Veja como exemplo a tabela abaixo:
Latim
Italiano
Francês
Espanhol
Português
Dies Dominca (Dias do Senhor)
Domenica
Demanche
Domingo
Domingo
Lunae Dies (Dia da Lua)
Lunedí
Lundi
Lunes
Segunda Feira
Maris Dies (dia de Marte)
Martedí
Mardi
Martes
Terça Feira
Mercurii Dies (dia de Mercúrio)
Mercoledí
Mercredi
Miércoles
Quarta Feira
Jovis Dies (dia de Júpiter)
Giovedí
Jeudi
Juevens
Quinta Feira
Veneris Dies (dia de Vênus)
Venerdí
Vendredi
Viernes
Sexta Feira
Saturni Dies (dia de Saturno)
Sabbato
Samedi
Sábado
Sábado
Algo diferente aconteceu nos idiomas Alemão e Inglês. Através da influência dos povos do Norte, a nomenclatura da semana foi adaptada com a união de referências nórdicas:
Dia
Alemão
Inglês
Origem
Domingo
Sonntag
Sunday
Dias do Sol
Segunda Feira
Montag
Monday
Dia da Lua
Terça Feira
Dienstag
Tuesday
Dia de Tyr
Quarta Feira
Mittwoch
Wendsday
Dia de Odin (Woden ou Wotan)
Quinta Feira
Donnerstag
Thursday
Dia de Thor
Sexta Feira
Fritag
Friday
Dia de Freyja
Sábado
Samstag
Saturday
Sabá (Alemão), dia de Saturno em inglês
Calendário, retrato das necessidades cotidianas do homem.
Antes de qualquer coisa, é preciso explicar que o nome calendário tem raiz na palavra latina calendarius (livro de conta diária ou de registro), que por sua vez originou-se de calendas, que correspondia ao primeiro dia dos meses romanos. Essa é a etimologia da palavra que utilizamos para descrever nosso sistema de contagem do tempo e por mais que ela seja utilizada para se referir aos sistemas de povos não latinos, não significa que eles os denominavam dessa forma.
O primeiro calendário de que temos registro teve origem na Mesopotâmia. Os sumérios criaram a primeira civilização humana que conhecemos. Por volta do ano 6500 antes da Era Cristã já haviam forjado a primeira capital política que o mundo conheceu, Eridu, a primeira cidade nitidamente religiosa, Nipur, e o primeiro empório comercial, Umma. Constituíram, portanto, uma nação plenamente organizada muito antes que qualquer outra civilização. Foi justamente no centro religioso da Suméria, Nipur, que surgiu o primeiro calendário.
Pode-se dizer, sem exagero, que o calendário foi criado por causa de um deus. Os sacerdotes de Nipur se preocupavam com o céu, onde o deus Enlil, representado na figura do início do texto, manifestava os seus desígnios e com o correr do tempo, esses religiosos se tornaram profundos conhecedores dos segredos do cosmos. Nomearam os astros celestes e seguiram sua rota no firmamento no decorrer do ano. Através disso passaram a relacionar o posicionamento dos astros com os acontecimentos cotidianos e assim criaram o primeiro calendário de que temos registro.
O espaço de tempo que levava para a repetição de dois fenômenos celestes foi dividido em doze partes fixas, e posteriormente foi adicionada uma ocasional para corrigir os atrasos da medição. Assim foram criadas as bases para o que seria chamado de Zoidiakos (palavra grega derivada de zoon, “uma criatura viva”, relativa a “animal”). O espaço de tempo entre uma e outra dessas frações obedecia a certa regularidade e assim formaram os meses que se repetiriam ao final do ciclo de doze. Assim nasceram os meses e consequentemente os anos.
Toda essa preocupação em relação à medição do tempo tinha finalidade prática e pode ser observada na nomenclatura que lhes foi dispensada. Os sacerdotes de Nipur nomearam os meses de: 1° o tempo do morador do Santuário; 2° o tempo de levar o gado para as pastagens; 3° o tempo de cozer os tijolos; 4° (nome incerto); 5° o tempo de por fogo no campo (preparando a terra para as plantações); 6° o tempo do festival em honra a Ishtar, deusa da fertilidade e da primavera (talvez por isso o festival vinha após a preparação das terras para as plantações); 7° o tempo do lugar sagrado (mês das peregrinações); 8° o tempo em que se abrem os canais de irrigação; 9° o tempo de cavar os campos da cultura (mês de arar a terra); 10° (incerto, relativo a um festival religioso); 11° o tempo de semear; 12° o tempo colher.
Além desses meses, os sacerdotes de Nipur criaram um mês intercalar para corrigir os atrasos do calendário, era o Dir. Se. Gur. Kud., inserido várias vezes para corrigir as medições. Esse sistema desenvolvido em Nipur era extremamente eficiente, possuindo até mesmo as correções periódicas, tal como fazemos atualmente com os anos bissextos.
Porém, como se pode observar era um calendário voltado à agricultura. Outras cidades, onde havia predominância de diferentes práticas, como as guerreiras e as comerciais, essas determinações dos sacerdotes de Nipur não foram muito bem aceitas. Cidades como Umma e Lagash, predominantemente comerciais, tinham necessidades dos mares, rios e estradas, por isso procuraram desenvolver outras formas de contar e marcar o tempo, embora a base determinada por Nipur tenha permanecido – como ainda hoje permanece.
Após as invasões dos acádios, povos de origem semita, liderados por Sargão I (a quem se credita a primeira ideia de império), os sumérios tiveram sua civilização destruída, mas seus costumes foram assimilados pelos invasores, sobretudo o calendário.
Diferentes povos desenvolveram semelhantes sistemas de contagem do tempo e todos com utilidade prática explícita. Os egípcios, por exemplo, perceberam que quando a estrela Sirius aparecia e brilhava mais intensamente durante as noites, trazia consigo as enchentes do Nilo, períodos de maior fertilidade. Notaram que demorava 365 dias e um quarto para que a enchente se repetisse, essa foi a base para a criação de seu calendário. Dividiram seu ano em 365 dias, mais 30 e conservaram 5 dias suplementares para as correções dos atrasos, aos quais os gregos nos legaram a nomenclatura, eram os epagômenos (relativo a suplementar). Os meses egípcios não tinham nomes, eram chamados de primeiro, segundo e etc., mas suas estações (três ao todo) nos dizem muito sobre a utilidade de seu calendário, eram elas: enchente, semeadura e colheita. Os egípcios não concebiam a semana, e tão pouco se preocupava com a contagem das horas.
A maior confusão nos calendários antigos foi a dos gregos. Contavam o ano sempre que o Sol mudava de posição no céu (solstício e equinócio) e a cada lua nova o mês se iniciava. Foi justamente na junção dos calendários lunar e solar que sua confusão começou. Como não conseguiram resolver o problema da contagem através das observações cosmológicas, recorreram à matemática. O resultado foi que estes decidiram que oito anos solares correspondia a 2.922 dias e oito anos lunares a 2.832. A diferença de 90 dias (três meses lunares) foi utilizada para equilibrar a contagem, sendo espalhados em épocas várias dos oito anos. Ao que parece eles se entendiam nessa contagem confusa!
Por fim o calendário romano. Os latinos possuíam originalmente um calendário lunar que compreendia 304 dias divididos em dez meses. Alguns desses meses (a exemplo do primeiro Martius de 31 dias) receberam nomes de suas divindades mais poderosas, a outros foram dispensados meros números ordinais.
Não é que os romanos e os demais povos que adotaram o ano de dez meses desconhecessem que eram doze os ciclos lunares, o que acontecia é que era um costume no centro europeu e em regiões de invernos rigorosos, que nos sessenta dias da estação fria não se realizassem trabalhos. Nessa “Estação Morta”, como era chamada, eram realizados apenas trabalhos intelectuais e burocráticos. Eram os dois meses de férias anuais!
Com a crescente expansão romana tornou-se preciso retirar do calendário os sessenta dias ociosos. Essa era a necessidade quando em meados do século VII antes da Era Cristã, o rei Numa Pompílio foi levado ao trono de Roma. Na lista dos feitos de seu reinado se encontra a incorporação dos dois meses de ócio, sendo criados os meses de Januarius (referência ao deus Janus, o de duas faces, que vê simultaneamente o passado e o futuro, o deus do começo), e Februarius (referência ao deus etrusco Februus, deus da morte e da purificação, talvez seja por isso que tenha sido designado para o último mês do ano, também o último do inverno). Dos últimos meses do calendário romano, passaram a ser os primeiros do Gregoriano.
A divisão das semanas romanas não era rigorosa. Os meses giravam em torno das três datas fixas dos meses, ascalendas (primeiro dia de cada mês), as nonas (quinto ou sétimo dia, a depender do mês) e os idos (décimo terceiro ou décimo quinto dia, de acordo com o mês). Finalmente no século I antes da Era Cristã, Júlio Cesar com ajuda do astrônomo egípcio Sosígenes, introduziu modificações no calendário, que se convencionou chamar de Calendário Juliano. Nele se conservaram os meses JanuariusFebruarius e Martius (março). Quintilis foi substituído por Julius, homenagem a César, também o mês de seu nascimento e os demais permaneceram com os nomes antigos.
Posteriormente foi incluído o mês de Augustus (que significa divino) em homenagem ao imperador Augusto (que na verdade se chamava Otávio). Este não quis ficar atrás da importância de César, seu tio-avô, ao qual se homenageou com o mês de julho, por isso seu mês vem logo após este e também têm 31 dias, quando pela lógica de distribuição numérica deveria ter 30. O sexto mês continuou como homenagem a Juno (junho), setembro permaneceu como numeral, do latim, septem (sete), assim como outubro (octo, oito), novembro (novem, nove) e dezembro (decem, dez).
O ano romano começava em Março, devido à importância do deus da guerra, Marte, para aquela sociedade. Por isso as numerações que representam setembro, outubro novembro e dezembro não são correspondentes à ordem do Calendário Gregoriano, predominante no Ocidente. O mês de Abril é uma exceção à regra, a palavra deriva do latim aprilis, abrir, é uma referência a germinação. E maio é uma referência à deusa romana Bona Dea adaptação da deusa grega Maya, ambas representam a fertilidade.
A história do tempo e de sua contagem continua ao longo dos períodos seguintes, mas seria preciso muito espaço para descrevê-la, o que farei em outra oportunidade. Principalmente devido ao fato de que daqui para frente, o conceito de tempo recebe um caráter extremamente filosófico, especialmente após Agostinho de Hipona (354-430), e a criação de diversas ciências após o século XVI da Era Cristã, a coisa se complicou ainda mais. Por hora esse é o nosso ponto final.
Obsessivos não! Organizados laboralmente pelo tempo.
Os calendários são na verdade mais que formas de contagem do tempo, representam as necessidades dos homens do Mundo Antigo, conforme se pôde ver nas nomenclaturas dos meses e das estações. Serviam e servem ainda hoje para regular as funções sociais das pessoas, religiosa, cultural e laboralmente. Na Idade Média, por exemplo, os calendários pintados nos vitrais das igrejas e nos livros, marcavam os meses a partir das funções que os camponeses tinham que realizar, plantio, colheita, queimada e etc. Essa situação não mudou muito até os dias de hoje.
O tempo nos fascina, nos envolve e nos organiza. Bom exemplo disso são as datas nacionais. Os gregos datavam o começo de sua vida coletiva a partir das primeiras olimpíadas (776 antes da Era Cristã), os romanos a partir da fundação da cidade de Roma (cerca de 753 antes da Era Cristã), os hebreus a partir da criação do mundo (7 de outubro de 3.761 antes da Era Cristã), os muçulmanos a partir da hégira, a fuga do profeta Maomé para a cidade de Medina (16 de julho de 622 da Era Cristã). E nós os brasileiros datamos o início de nossa história a pátria de 22 de abril de 1.500!
Nos dias de hoje continuamos os trabalhos dos sacerdotes de Nipur, ou de povos ainda mais antigos, olhando para o cosmos e precisando cada vez mais as formas de medir o tempo. Chegamos ao absurdo dos ioctossegundos ou mesmo do googol (representado pela fração 10100), criado por Edward Kasner em 1938, número sem qualquer utilidade prática que serve apenas para explicar a diferença entre um número imenso e o infinito. O googol é um dos maiores números que podemos conceber e serve, também, para comparações temporais, por exemplo, nessa escala todo o tempo decorrido desde o Big Bang (entre 13,3 a 13,9 bilhões de anos), até hoje, representa 17×1039 ioctossegundos (nem consigo fazer essa conta em minha calculadora!). É algo inconcebível! Uma curiosidade, foi desse nome que se originou a marca Google, que representa infinitas possibilidades de busca.
A contagem do tempo se iniciou por causa das necessidades de sobrevivência, sua finalidade era estritamente cotidiana. Com o passar do tempo as sociedades humanas se fizeram mais complexas, exigindo maior precisão temporal. Assim sofisticamos nossas técnicas e métodos de contar o tempo, buscando dominá-lo, mas nos tornamos cada vez mais seus escravos.
Temos relógios em praças públicas, nos pulsos, celulares, microondas, geladeiras, computadores…, tudo isso para que não cheguemos atrasados. Mas para que não cheguemos atrasados onde? No trabalho? Se o capitalismo é tão meticuloso assim, será que os patrões se esqueceram que temos hora marcada para sair do emprego? Não, não creio que a culpa seja do capital, ele apenas se utiliza de nossa obsessão temporal. É de algo mais profundo, mas que ainda não sei explicar.
Talvez a contagem do tempo tenha se tornado um transtorno obsessivo compulsivo (TOC), virou uma patologia difícil de curar (se é que exista a cura, afinal sempre perguntamos as horas, não o dia, mês ou ano!). Sei penas de uma coisa, nossas vidas se transformaram em horas, minutos, segundos, milésimos que perdemos. Incrivelmente, sempre ouço as pessoas falando que perderam tempo, nunca que o ganharam! Afinal o que é o tempo? Como disse santo Agostinho, quando ninguém me pergunta eu sei o que é, mas quando alguém me pergunta, já não sei mais.
imagem tharles

[1] Graduado e mestrando em História pela Universidade do Estado da Bahia, bolsista CAPES (como as obrigações legais me forçam identificar!). Como não é um texto de caráter acadêmico, as referências foram omitidas. Os textos consultados afim de garantir a credibilidade das informações apresentadas foram: HERMANI, Donato. A história do calendário. São Paulo: Melhoramentos, 1993, especificamente os capítulos 2, 3, 4 e 7; Hilário Franco Júnio. O ano 1000. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, o capítulo I; AGOSTINHO.Confissões, XI, 14, 17. Trad. J. O. Santos e A. A. de Pina. São Paulo: Nova Cultural, 2004. Além dos sites:http://estranhamentegeek.blogspot.com.br/ para a definição de ioctossegundo; http://www.dicionario10.com.brpara a definição de epagômenohttp://www.chabad.org.br para a definição de Zodíaco; e pt.wikipedia.org/ para as informações sobre os deuses sumérios Enlil e Ishtar, além da definição da palavra calendário e dos nomes dos meses; http://origemdapalavra.com.br/palavras/tempo/ para a definição da palavra “tempo”. As consultas foram feitas entre os dias 15 e 29 de janeiro de 2013.

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