sábado, 23 de março de 2013

Sociedade Sustentável - 2. Teoria Social e ambiente II

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Teoria Social Contemporânea

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Os autores aqui abordados Giddeens, Ulrich Beck e Jürgen Habermas - possuem uma extensa e complexa obra. Trata-se, no âmbito deste texto, de indicar apenas algumas reflexões da teoria social contemporânea relacionadas à questão ambiental e perceber suas contribuições e limites.

Giddens, industrialismo e degradação ambiental

Anthony Giddens, em seus primeiros estudos, em especial The National-state and violence, explica a degradação do ambiente a partir da interação que ocorreu historicamente entre o capitalismo e industrialismo. Dedica-se especialmente ao estudo de como o espaço geográfico influenciou os processos sociais e como os fenômenos do urbanismo e da globalização contribuíram para os problemas ambientais. Posteriormente, seus estudos voltaram-se para o tema da modernidade em detrimento do capitalismo, que continua sendo o tema por excelência da teoria social contemporânea.

Giddens rejeita as explicações do materialismo histórico, especialmente os modelos evolutivos de progresso social ou de explicação histórica. Sua tese aponta, ao contrário, para a descontinuidade dos processos sociais e considera que ocorreram diferentes percursos de progresso social. Rejeita igualmente as teorias que apontam o fato econômico como única causa do progressos social, salientando em seu lugar o papel da relação entre diferentes organizações sociais ao longo dos limites  de tempo e espaço. Em outras palavras, analisa como a concepção de tempo e espaço influiu na constituição de estruturas sociais (calendários e a invenção do relógio mecânico), a natureza das cidades, a natureza do dinheiro, a importância do Estado absolutista e do Estado na formação do capitalismo ocidental e o fenômeno da globalização.

Conforme análise de Goldblant (1998 p. 38), ao mudar o seu foco de interesse do capitalismo para a modernidade, em seu livro As consequências da modernidade,  Giddens reavalia a origem das causas da degradação do ambiente e demonstra que, seja qual for a origem da modernidade, o mundo moderno é o arauto da maior transformação da natureza que as sociedades humanas conseguiram atingir. Giddens considera o industrialismo como responsável pelos atuais problemas ambientais e não o capitalismo ou o capitalismo industrial, posto que os países do Leste Europeu, sobretudo entre as décadas de 1940 e 80, apresentaram crescimento econômico e demográfico insustentável do ponto de vista ambiental. Embora baseados em regime de prosperidade e estrutura econômica diferentes daquelas das sociedades européias capitalistas, eles apresentam semelhantes problemas de degradação ambiental decorrentes dos aumentos dos níveis de produção de matéria prima. Como indica Goldblant (1998, p. 78), nos países socialistas o crescimento industrial representou a solução para dois problemas políticos: satisfazer a necessidade da população, propiciando níveis de vida comparáveis ao do Ocidente, e obter segurança por meio de níveis de ocupação militar comparáveis aos do Ocidente. ...

 

Beck, sociedade de risco e ambiente

Beck é o téorico que se dedica mais diretamente a analisar o potencial catastrófico da degradação ambiental global. Ele argumenta que a modernidade descrita pelos teóricos sociais clássicos transformou-se numa sociedade de risco. Mas que riscos são esses? Beck se utiliza das das noições de risco e perigo para se referir a muitas áreas da vida social (justiça, mercado de trabalho, família). Em consonância com o modelteórico de Giddens, Beck constata que certos perigos e azares sempre acompanharam as sociedades humanas. O fato de determinadas circunstâncias ou eventos serem considerados riscos reside no fato de que são riscos e perigos conhecidos, cuja ocorrência pode ser prevista e cuja probabilidade pode ser calculada.

Para explicar o modelo de desenvolvimento social segundo as noções de risco e perigo, Beck carateriza-os segundo três fases distintas.

1. Na primeira fase, das sociedades pré industriais ou pré modernas, o risco se reveste dos perigos naturais como os tremores de terra, a seca, as enchentes. Os perigos, nesse caso, são externos e inevitáveis. Não ocorrem intencionalmente nem são voluntariamente produzido pelos indivíduos. O âmbito de influência desses perigos pode ser tanto localizado como ultrapassar fronteiras regionais. É o caso, por exemplo, da Peste Negra que assolou a Europa durante cerca de 400 anos. A explicação social para a origem desses perigos é buscada, em geral, em forças externas, divinas. Portanto, para Beck, as sociedades pré-industriais são visivelmente inseguras.

2. Na segunda fase, das sociedades indústriais clássicas, as características dos riscos mudam, como também suas origens e explicações sociais. Os riscos e acidentes são derivados da ação dos indivíduos ou de forças sociais mais amplas. Podem ser riscos decorrentes do trabalho, como acidentes provocados pelo manuseio de máquinas ou produtos químicos perigosos, ou a ameaça do desemprego da carestia ocasionados pelas incertezas dos ciclos econômicos ou pela transformação econômica. Então os riscos já não s~~ao causados elas forças externas ou irresponsabilidades individuais. As sociedades industriais, segundo Beck, previnem-se, criando instituições que partilhem as responsabilidades coletivas e leis a fim de tratar e atenuar o impacto dos riscos e dos perigos localizados, como, por exemplo, a criação de indenizações e apólices de seguro contra acidentes de trabalho e desemprego.

3. Já na terceira fase, das sociedades contemporâneas, consideradas sociedades de risco, os impactos dos riscos e perigos não são passíveis de determinar e perceber tal como nas sociedades industriais, tornando díficil ou mesmo impossível detectar as causas ou pagar indenizações. Primeiramente porque os riscos nas sociedades industriais clássicas, embora fossem importantes em âmbito local e devastadores do ponto de vista pessoal, tinham os seus efeitos limitados no espaço, não ameaçavam sociedades inteiras. Tomamos o exemplo dado por Goldblant (1996, p. 232): a poluição gerada por uma indústria siderúrgica no século XIX ou meados do século XX. A emissão de gases poluentes e a produção de objetos poderia afetar as pessoas que trabalhavam na fábrica, a população local que vivia em torna da fábrica e respirava o ar contaminado por partículas toxicas e as pessoas que bebiam a água contaminada da rede local. Essa indústria, no entanto, assim como as demais indústriais de siderurgia de todos os países industrializados, não ameaçava populações inteiras nem o planeta todo.
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Habermas, racionalidade e movimentos ambientalistas


Ele é um dos críticos da obra de Marx. Segundo Habermas, a ênfase dada por Marx à exploração do homem sobre o homem pelas relações de trabalho e à necessidade de abolir as classes sociais pelo progresso contínuo das forças produtivas indica uma limitação do socialismo clássico em relação aos problemas e políticas de degradação ambiental. Ou seja, Marx condena no capitalismo a exploração humana, mas não o modelo de desenvolvimento calcado na exploração de recursos naturais.
Para Habermas, o desenvolvimento das sociedades humanas deveria ser considerado a partir de dois polos autonomos, mas interdependentes: sucesso na repodução material e progressos na evolução moral. A obtenção de níveis superiores de consciência moral depende da capacidade de assumir a perspectiva de outros participantes, de refletir sobre os seus prórpios interesses e de concordar com  a justiça das normas com base na discusão e no consenso.
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Segundo Habermas há duas categorias distintas de movimentos sociais: os movimentos de emancipação e movimentos de resistência e retirada. O movimento de mulheres é um movimento de emancipáção por excelência. O movimento ecológico é um movimento de resistência. Os movimentos de resistência podem se subdividir na defesa das classes sociais e tradicionais e uma defesa que já atua na base de um mundo natural racionalizado e experimenta novas formas de cooperação e de vida em conjunto.
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Ampliando conhecimentos: Filme Metropólis de Fritz Lang,  produzido na Alemanha em 1927.



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